15 agosto 2006

Juntar os fragmentos!

Não é incomum surgir questionamentos acerca da revolução no cotidiano, da quebra dos padrões e da fuga de um sistema mercantil ao qual estamos inseridos. No decorrer da história revoltas proletárias que pareciam fadadas ao sucesso fracassaram por não conseguir, ou não ter, posto em prática a superação não só dos meios de opressão mais também das ferramentas que a tornavam ativas, bem como uma supressão definitiva de um sistema espetacular e sua invariável impossibilidade de qualquer retorno. A crítica do mundo moderno deve ter como objetivo a totalidade.


"A revolução da vida cotidiana se encontra frente a frente com as imensas tarefas que ela deve cumprir. A revolução, tal como a vida que ela anuncia, deve ser reinventada. Se o projeto revolucionário permanece fundamentalmente o mesmo - a abolição da sociedade de classes - é porque, em nenhum lugar, as condições na qual ele é formado foram radicalmente transformadas. Trata-se de retomá-lo com um radicalismo e uma coerência fortalecidos por uma experiência da falência de seus antigos portadores, a fim de evitar que sua realização fragmentária acarrete uma nova divisão da sociedade.
A luta entre o poder e o novo proletariado só podendo acontecer na totalidade, o futuro movimento revolucionário deve abolir, em seu seio, tudo aquilo que tende a reproduzir os produtos alienados do sistema mercantil. Ele deve ser, simultaneamente, a crítica viva e a negação desse sistema, e é essa negação que traz em si todos os elementos possíveis da ultrapassagem. (...) Uma organização dessas deve priorizar a crítica radical de tudo aquilo que fundamenta a sociedade que ela combate, a saber: a produção mercantil, a ideologia sobre todas as suas máscaras, o Estado e as separações que ele impõe." *


Tendo como idéia de que devemos antes de qualquer confronto preparar o terreno, torna-se válida a formação de coletivos ativos que transformem em prática toda a crítica discutida e fundamentada. É difícil sobreviver sobre o dogma fragmentário da separação das sensações e dos desejos. Aproveitar as situações e fazer com que elas aconteçam é fundamental.


Um bom método consiste em usar a arma do inimigo contra o próprio inimigo, tomar e transformar as armas dele para combatê-lo. O que torna a subversão possível é o fato das coisas se desvalorizarem, perderem todo o seu sentido original e poderem tomar um sentido novo, diferente e vivo.


Contra a mass media podemos invadir as ruas durante a madrugada e modificar o sentido das frases nos outdoors (ou simplesmente destruí-los), encher os postes e muros de sticks subversivos, pichações e grafites criativos que despertem o potencial questionador da sociedade. Difundir o ideal libertário e invadir as mentes dos transeuntes desses labirintos de pedra.


Podemos ao máximo tentar se distanciar do mercado de consumo se negando a comprar coisas descartáveis e supérfluas, evitando ao máximo a ação mantenedora do maquinário capitalista: o consumo. Esse mal que assola nossos dias está por findar. Então nos levantaremos em um movimento que nega todas as suas supostas formas de felicidade. Não precisamos dessas máquinas! Não precisamos desses valores! Não precisamos de uma civilização megalomaníaca! Queremos nossa autonomia de volta!


Faça do garimpo urbano uma mania saudável. Descubra quantas coisas legais, e de graça, é possível encontrar - de divertimentos a coisas materiais. Devemos reutilizar o que for possível, porque comprar algo novo se o "velho" da conta da tarefa?


Matar a moral burguesa e tudo que ela impõe, bem como as suas ideologias discriminatórias e preconceituosas que já prejudicaram milhões de pessoas ao longo da história. Se o casamento mantém o conceito de núcleo familiar e administra a força patriarcal na sociedade, não nos casaremos. Se o amor é tomado no mundo moderno como algo irreal e manipulado, transformaremos em algo livre e sincero, sem dogmas que nos impeçam de sentir o seu real sentido subversivo. Se o pudor for a regra dessa sociedade casta dominada pela conduta eclesiástica de pureza, morreremos gozando.


Viver a poesia que apenas contemplávamos. A crítica radical e a criatividade edificante servem de conduta contra o fantasma alienador da sociedade. Que a arte seja de fato as nossas próprias vidas e que a poesia seja feita para todos viverem. Viver sem tempo morto e deixar a vida fruir devem ser as regras do jogo.

>>>Célula Zero<<<_>


*Escrito em Novembro de 1966 por Mustapha Khayati sobre o título de A miséria do meio estudantil - considerada em seus aspectos econômico, político, psicológico, sexual e, mais particularmente, intelectual, e sobre alguns meios para remediá-la.

4 comentários:

Anônimo disse...

Ai Irmão é noisssss!!!
Já escrevi a carta sobre sobre veganismo e passo pra vc amanhã!
Temos que conversar urgente!!
Abraços
"NUNCA SINTA FOME,NUNCA SINTA SEDE"
Derrubando a babilônia
Veio

Anônimo disse...

Como vocês devem saber, zilhares de pessoas escreveram coisas semelhantes, é a culhonésima vez que encontro textos assim, ou mais.

A diferença com a Célula Zero é que há uma promessa de realização por trás das palavras. E elas só farão sentido na vera quando deixarem de ser palavras e se transformarem em ação.

Aguardo boas novidades - não pelo blog, mas com meus olhos e ouvidos. Me façam odiá-los.

Manolo

Anônimo disse...

Olá, aqui é a Sofia do erva daninha

esse blog existe ha quanto tempo? olhando ali embaixo a definição (celula e zero),lembrei que ja vi algo parecido, mas faz um tempinho ja.. é o mesmo blog?

de qualquer forma, foi o maior custo fazer o blog abrir nessa lanhouse! hehehe

depois falamos mais
abraço!

Anônimo disse...

o texto está foda...muito dessas coisas me bate na mente todos os dias e eu tento fazer o possível para viver de verdade.
vocês são fodas, importantes pra caralho e um exemplo(não heróico..haha!) que eu sempre penso em meus dias.

abraços!